
Abro um livro antigo
Histórias de gente simples (:
Vejo meus avós!)
Abro minha janela
Sol de fim de tarde
Vento quente no rosto
Bem-te-vi na faveira
Canto do vaqueiro ao longe
Flores fechando as horas
Cheiro de jatobá quebrado
Menino voltando da escola
Mulher com balde d’água na cabeça
Balanço das palhas da carnaúba...
Coração amante das matas
O sertão tem paisagens
Debruço-me na janela
Às vezes me pego pensando em ti
Sem ter tido adeus...
Um silêncio me abraça
Tão profundamente
Como uma saudade.
Levo meus olhos
A lugares nossos
A toques de carinho
A palavras não ditas
Nas horas em que ficamos
Olhando-nos
Timidamente
Como dois adolescentes
Antes do primeiro beijo.
E deixo meu olhar seguir
Sorrindo um até logo
Sem dizer adeus
Apenas por gostar de pensar em nós...
Todo teu corpo parece contido nela
Entranhado em meus poros
Profundamente em cada célula
Um cheiro de masculinidade
Mesclado com o sabor da ternura
É um cheiro que me rega as horas vazias
Ardendo em mim um provocar de arrepios
Uma chama flutuante em meus olhos
Envolvendo-me em atmosfera de sonhos de amor
“Que cheiro de homem amado!...”
E os perfumes das flores sabem disso
Pois dão uma voltinha além de mim!...
E um som suave de águas brincando nas matas e nos olhos do céu sobe em minha pele. Aparecem flores simples e vozes de pássaros canoros. Olho a mata e fico pensativa: “Que bela é a vida numa gota de orvalho!”
Uma gota de orvalho. Sim. Na ponta de um capim há uma gota de orvalho. Entregue ao sol que nasce sem medo de morrer. Misturando-se com o frescor da manhã no banho matinal de meus olhos. Afloro em lágrimas. Sou uma saudade, um resto de madrugada, um desejo de amar...
E sinto o calor da manhã... saudando as matas... correndo de menino com o vento em raios quentes... “É o sinalzinho da morte da gota de orvalho!...”
Uma gota de orvalho... A noite inteira cuidando da vida na mata... Ouvindo o estalar dos capins, das ramas de salsa, das flores silvestres fechando a porta das pétalas!...
E agora morta!... Vem uma pontada de dor a meu coração... Viajo os olhos nos raios do sol... “A vida tem de seguir...”
... E na claridade da manhã escuto o sino da igrejinha, longe, soprando uma oração ao dia que nasce (:) Em gotas de orvalhos!...
Meu coração enternecido abre a porta da vida, desce as escadas da noite, e me leva com ele, num rompante de sentimentos. Acompanho suas pegadas. Vira logo à direita e senta-se embaixo da árvore em que nos beijamos pela primeira vez.
O primeiro beijo guardado na imagem. Resgatado na noite que se abre diante de meus olhos. Ressuscitando o cheiro de tua pele, o sabor de teus lábios. E te sinto presente!...
... Uma noite, em teus braços, quando a lua se escondera nas nuvens negras, teu rosto, junto ao meu... Ouvi tua voz sussurrando... _ Tua voz... teu cheiro... _ Teu cheiro... um aroma de querença... erguendo meu coração nos braços do amor.
Desvio meu olhar por um instante, neste momento... Ah!... a lua se escondeu, como outrora... entre as ramas das nuvens... tirando meu coração do chão em que se sentara debaixo da árvore... E o vento passa agitando meus sentidos...
A lua rasga um véu por entre os galhos da árvore... E já não estou sozinha no meio da noite... “Teus passos surgem... na porta de minha vida”. Meu coração corre na imagem de teus olhos...