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HAICAIS (de meu arquivo pessoal)

Alguns haicais de 2010

I
Passa um canário
o menino na escola
quer assobiar

II
Ventos de janeiro
transportam tais folhas secas
livres borboletas

III
O céu no sertão
é feito de seda azul
bordado de pássaros

IV
No alto da serra
o verde desce num cipó
e põe os pés no chão

V
Final de semana
o pião dá muitas voltas
e vai tonto ao chão

VI
Manhã de inverno
quando o sol aparece
cantam sabiás

VII
Noite de verão
cachorros de rua fogem
ao ver os foguetes

VIII
O céu azul acorda
e se enche de andorinhas
de todas as cores

IX
Manhã de janeiro
o sol entra na varanda
com ares de dono

X
Foto na parede
a anciã de pé relembra
das negras madeixas

XI
Um livro dourado
com a chuva no telhado
noite de histórias

XII
Balança a palmeira
para caçoar do vento
tardes na praia

XIII
Arqueando as asas
um gavião olha as nuvens
no largo do céu

XIV
Na caixa de jóias
o pequenino cordão
tempo de criança

XV
Imenso baú
as meninas sentam nele
com tantas conversas

XVI
Tarde de calor
num vestígio de lagoa
um burro e seu dono

XVII
Os pratos na mesa
um cachorro faz chamego
nos pés do menino

XVIII
Vestida de ouro
uma borboleta pousa
numa branca flor

XIX
Nos braços do amigo
o ursinho até se esquece
que é de pelúcia

XX
Na sala de aula
abrem os livros didáticos
e recitam versos

XXI
As janelas fechadas
e as folhas da trepadeira
num rumor ao vento
XXII
No meio das flores
os encantos da manhã
um coelho branco

XXIII
Festival de asas
no meio da Mata Atlântica
tantos passarinhos

XXIV
Mesa do café
as conversas do Natal
unem a família

XXV
Num canto da sala
um sofá tão pequenino
casa de boneca

XXVI
Um sabiá canta
no alto da laranjeira
tarde de novembro

XXVII
Flores no asfalto
a criança tem vontade
de ser também forte

XXVIII
O sol já se foi
a rua toda amarela
vestida de lua

XXIX
Um casal de pombos
 é bom mesmo se falar
de paz e amor

XXX
Um gato de rua
acompanha um pescador
noite de verão

XXXI
Noite de domingo
a alegria da praça é
a banda de música

XXXII
A brisa da tarde
segue a rota dos canários
e corre na mata


XXXIII
Menino quieto
uma pintura sem cor
na tarde de junho

XXXIV
Gato na poltrona
as noites na sala ficam
sempre na lembrança

XXXV
Galopa o cavalo
no caminhar do menino
brinquedo infantil

XXXVI
Do alto do morro
uma aposta dos meninos
até os ipês

XXXVII
Por trás da folhagem
um resto de sol da tarde
sabor de verão

XXXVIII
É quase manhã
sem medo do sol

XXXIX
Dias de calor
a caatinga sem folhas
para descansar

XL
De ponta cabeça
uma garça refletida
na lama da rua

XLI
Flores tropicais
alimentam beija-flores
dentro da floresta

XLII
Noite sem estrelas
toda a cidade ganha
uma lua branca

XLIII
Noite sem luar
exaltam os pirilampos
acesos na rua

XLIV
Os ipês lilases
contracenam com o verde
nas cores de agosto

XLV
Nas margens do lago
uma jovem solitária
e a água em seus pés

XLVI
Num tronco de árvore
o som de uma cigarra
noite de inverno

XLVII
A mesa da cozinha
nos dias de chuva forte
tem mais convidados

XLVIII
Descida do morro
um ipê amarelo quer
arranhar o vento

XLIX
A criança dorme
sonhar com um lar

L
Corre um cão na rua
embrulhados pelo vento
também os meninos

LI
Na casinha simples
pão com café sobre a mesa
riso dos pequenos

LII
Passam no jardim
formigas aborrecidas
trabalho noturno

LIII
Na beira da estrada
dois jumentos aproveitam
o capim rasteiro

LIV
Cacho de bananas
o ar se enfeita de sons
de abelhas felizes

LV
Cheiro de café
e o tom poente do sol
tarde de janeiro

LVI
Flores violetas
tão sensíveis como as outras
no vaso de barro

LVII
O sol já se vai
os olhares são para um
sabiá na cerca

LVIII
A água da bica
desliza pela calçada
como se brincasse

LIX
Em cima da ponte
um pássaro abre as asas
antes de voar

LX
Num voo apressado
canários fogem dos homens
ao ver a gaiola

LXI
Manhã de verão
duas lagartixas banham-se
aos raios do sol

LXII
Menino do rio
brinca de mergulhador
pra ver os peixinhos

LXII
Um dia chuvoso

quer tanto molhar a rua

como ser do mar


LXIV
Sozinha no galho
entregue ao orvalho da noite
uma rosa branca

LXV
Perto da janela
uma pequenina aranha
em pleno serviço
LXVI
Estrada deserta
nasce quase abandonada
pequenina flor

LXVII
Em água rasa
uma formiga aprende
a subir em folhas

LXVIII
De ponta cabeça
um papagaio belisca
cheirosa goiaba

LXIX
Todo em sorrisos
o sol alarga as janelas
 finda-se o outono

LXX
Tantos girassóis
a combinação perfeita
para o belo sol

LXXI
Bicho da goiaba
com a cara no buraco
estragando a fruta

LXXII
Flores desabrocham
ao raiar do sol de inverno
entre folhas frias

LXXIII
Donos da lagoa
um casal de patos namora
ao claro da lua

LXXIV
Cestinha distraída
um buquê de margaridas
cheira os chocolates

LXXV
Casinha na serra
abre as portas para o verde
em léguas de cor


LXXVI
Finda-se o enredo
o ipê perde a cor lilás
pra festa do chão

LXXVII
Levadas ao vento
as folhas de outono pedem
um abrigo ao chão

LXXVIII
Chega um rouxinol
o sol trata de deitar
antes da seresta

LXXIX
Menina de cachos
ela nunca vai crescer
aos olhos do pai

LXXX
A casa no morro
é ponto de referência
pro vento da tarde

LXXXI
As janelas fechadas
e as folhas da trepadeira
num rumor ao vento


LXXXII
O mar tem beleza
ele enche de crianças
na beira da praia

LXXXIII
Cachorro de rua
acomoda-se na praça
para ver a lua

LXXXIV
Sem baladeira
o curió canta livre
manhãs do sertão

LXXXV
Num muro sem cor
uma trepadeira veste
o róseo e o verde

LXXXVI
Criança na casa
o que vai fazer o ursinho
na hora da escola?

LXXXVII
Concurso no lago
de branco as garças concorrem
pala melhor imagem

LXXXVIII
Sploc sploc no banheiro
frágeis nas pequenas mãos
bolhas de sabão

LXXXIX
Barulho no quarto
uma mariposa dança
aos passos da luz

XC
Janela fechada
o vento muda o caminho
e brinca nas árvores

XCI
A cidade acorda
fitando o céu um louva-a-deus
tem os pés no chão

XCII

O som da viola
na varanda da fazenda
noites no sertão

XCIII
No perfil do vento
a palmeira bamboleia
seu teto de palhas

XCIV
No largo da rua
os ipês em tons lilases
conversam do dia

XCV
Dum galho exausto
eis que o bem-te-vi canta
e o repouso esquece

XCVI
Final de semana
o pião dá muitas voltas
e vai tonto ao chão

XCVII
Um banco de praça
jamais contém solidão
num jardim florido
XCVIII
Dentro da floresta
um raio de sol alcança
uma vitória-régia

XCIX
O menino acorda
são tantas as brincadeiras
que o dia é curto

C
Perfumes do campo
abrindo-se na manhã
junto da casinha




1º DE FEVEREIRO 20111

I
As gotas de orvalho

Brincam ao nascer do dia
No capim rasteiro

II
Atravessa um voo
Nas folhas do mamoeiro
Canta uma cigarra

III 
Tarde na cidade
Enche-se o largo da rua
De carros velozes

IV
Diante da porta
Um cajueiro apinhado
De bem-te-vis.

02 DE FEVEREIRO 2011

I

Madrugada fria
Ao lado da cama, a mãe
Com um lençol quente



 03 DE FEV 2011

I
Figuras de mármore
Os bem-te-vis insensíveis
Aos fatos históricos

II
Cheiro de café
Passa um gato mastigando
Um pedaço de pão

III
Noite de luar
Os vaga-lumes aproveitam
Para dormir cedo

IV
No largo do céu
Nuvens escuras se arrastam
Por dentro da noite


 05 DE FEV 2011

I
Sol do meio dia
Uma borboleta para
Em cima da flor


II
Noite de calor
Como visitas antigas
Tantas muriçocas


06 DE FEV 2011

I
Entre o céu e o mar
A palpitação do azul
Na voz de setembro


II
A cada olhar
O vento anda na areia
Ao sol da manhã


III
Diante do rio
O sol senta-se na tarde
Num grande silêncio


IV
Terreno vazio
as estrelas da noite ficam
sem poder falar


V
Rede na varanda
Mais uma formiga chega
Para trabalhar


VI
Com um passo igual
As formigas na parede
Dia de trabalho


VII
Do alto da árvore
Começam a cair folhas
Como borboletas


VIII
Andam na folia
Os ventos de fevereiro
Lá em cima das árvores


IX
Em cima do muro
Olhando de um lado e outro
Uma lagartixa


X
Tarde de sol forte
Os lavradores enxugam
O suor da testa


07 de fev 2011


I

O vento oferece o cheiro
Pela casa toda


 08 de fev 2011

I
Fundo do quintal
Um pé de mandacaru
Mais alto que a cerca


II
Nas margens do rio
Os meninos assobiam
Um depois do outro


III
A hera do muro
Quem vem da rua vê
A porta com vida


IV
Silêncio na noite
Até os guizos fazem pausa
Com este calor











Depois eu volto...

Beijão e grata pela leitura.