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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ipês na rua





No largo da rua
Os ipês em tons lilases
Falavam do dia


Crônica de uma avó





Eu fico aqui, olhos presos no voo de alguns canários e sabiás, cogitando de minha vida. Ela nunca me fora mais adversa. Se por um lado tenho um montante de dívidas com os quitandeiros; de outro, sou agraciada com o prazer de ser avó. Este é um dos sonhos de meus dias. E olha que os acho longos! Meus cabelos brancos que façam queixas das vezes em que foram tingidos.

Aproveitando um fragmento de música antiga e sem citar o autor, que não lembro; e podem culpar meus anos idos (!), digo a mim mesma como se fora a vida a dizê-lo: “Receba as flores que lhe dou...”. Uma pessoa deve sempre olhar as flores; ajuda a andar com um sorriso, a recuperar o sabor da beleza do dia. Cada dia tem um tom diferente, com suas “pedras no meio do caminho”. Isso atribui um aspecto diferente a cada amanhecer; uns têm flores de tons vivos, e, há os que estão enveredados por pedregulhos.

Bem, alguns seres escalam montanhas por prazer, outros voam no alto delas e fazem-nas suas moradas. Quando soube que ia ser avó, eu descobri o que é voar sem ter asas! Cheguei a abrir meus braços hoje de manhã sentindo o vento em meu corpo. Foi uma sensação de prazer, de excitação. Que foi? A palavra [excitação] está mal colocada? Hum!... Segundo o Aurélio, na acepção 3.: Forte sensação de vigor, energia, entusiasmo e/ou desejo ... Então, por instantes eu fui energia. Corri no vento... e pousei nos galhos da faveira; a qual avisto balançar os galhos daqui de minha preguiçosa na varanda da casa.

O curioso é como a vida nos vem nova a cada instante! E nada me escapa na manhã, como se meus sentidos estivessem ligados aos sons, às cores; desde o canto dos pássaros nos galhos verdes da faveira até o arrastar dos ramos secos da vassoura de piaçaba no chão do terreiro. Tenho no olhar, nos seios, no coração a certeza de que há adversidades, mas que sou forte como este sertão.

Por todos os “sabiás” que cantam nas “palmeiras” do dia (apesar de minhas dívidas) com sua graça e cara natural eu me vejo uma feliz vovó com seus cabelos brancos contando histórias a minha netinha debaixo deste céu azul. E os canários? Bem, eles devem estar agora no alto de um ipê, pois de repente as flores ficaram mais amarelas...

Lindo engano



Num galho despido (...)
Uma flor conjeturava
Ser ela as folhas


Caminhos



O homem caminha
Nem sempre certo de seus passos...
Mas segue...
Aqui fico olhando o dia...
... Querendo ser o vento...
Para dar asas a meus sonhos...